quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Familia, comportamento e aprendizagem


Família, comportamento e aprendizagem em pleno século XXI: o que os pais de hoje em dia andam fazendo?

Em tempos de grande cobrança escolar e inúmeros estudos sobre alterações de comportamento ( como o TDAH) e transtornos de aprendizagem ( como a dislexia e a discalculia), o diagnóstico que mais vemos na prática clínica é o de dificuldade de aprendizagem. As famílias e escolas querem sempre o caminho mais fácil: um exame, um remédio - "fraco" ou "natural", de preferência e, pronto, resolvido o problema.
 
Contudo, muito mais importante que isso, é uma reflexão que as famílias se recusam a fazer: qual o seu papel na formação cognitiva, comportamento e aprendizagem das crianças? Por que seu filho é agressivo? Ou agitado? Desobediente? Não pára? Não aprende? Por que diabos a escola te chama tanto para reclamar dele? Já adianto que as crianças seguem exemplos, e as motivações são reflexo do meio social - e familiar em que vivem.
 
Os valores do ambiente familiar refletem-se nas motivações, na personalidade e nas atitudes das crianças. Em resumo: algumas crianças são capazes de inibir a agressividade, visto que aprenderam em casa que a agressão conduz ao castigo. Outras, no entanto, são encorajadas a expressar sentimentos agressivos e, conseqüentemente são mais inclinadas às brigas, birras e desafios quando contrariadas. Além disso: crianças que apanham, aprendem a resolver suas frustrações batendo. Criança que não é corrigida com firmeza e sem agressividade quando agride, aprende que isto é aceitável em seus momentos de contrariedade (por que seu filho bate nas outras pessoas, então?)
 
As diferenças de estimulos e motivação de realização dadas dentro de casa também influenciam o comportamento das crianças. Pais que, em geral, valorizam a capacidade de realização de seus filhos, recompensando-os com freqüência, formam crianças interessadas em estudar. Os que não valorizam o esforço e capacidade de realização dos filhos, porém, formam crianças mais propensas às dificuldades no estudo, que consideram a escola chata, e com grande probabilidade de se converterem em "problemas escolares".
 
Contudo, um alerta: recompensar a criança e presenteá-la são coisas bastante diferentes. Comumente vemos crianças com dificuldades escolares, comportamento inadequado ou agressivas recebendo inúmeros presentes dos pais - que, as vezes, o fazem com grandes dificuldades. Saber o momento de presentear uma criança é papel de quem quer formar um cidadão. Independentemente da idade de seu filho!
 
A diferença na fala e no vocabulário, já nos pré-escolares também exerce forte impacto na aprendizagem escolar da criança. Meninos que possuem melhor vocabulário, articulam com maior perfeição, falam corretamente e constroem frases mais elaboradas tem rendimento escolar superior aos outros, no futuro. Neste contexto, o aumento de estímulo ambiente de uma criança antes dos 5 anos de idade pode levá-la a intensificar seu interesse pela linguagem e a melhorar sua expressão verbal. Isso é muito importante uma vez que a aprendizagem complexa e a formação de conceitos depende muito da linguagem. Cabe, porém, um alerta: ambientes familiares superprotetores também podem privar a criança de um desenvolvimento autônomo, reforçando, por exemplo, uma fala infantilizada.

Dentre os inúmeros fatores que interferem no processo de ensino-aprendizagem e que prejudicam as crianças, muitas vezes severamente, o principal costuma ser a ineficiente educação familiar. Os pais, de forma deliberada ou inconscientemente, serão os responsáveis por permitir ou obstruir o processo de construção da individualidade de seus filhos. E precisam criar um ambiente familiar que satisfaça as necessidades básicas de afeto, apego, desapego, segurança, disciplina, aprendizagem e comunicação, pois é nele que se estrutura a mais importante forma de aprendizagem: a capacidade de aprender a se relacionar com o outro.
 
Por trás de grande parte dos distúrbios de aprendizagem ou de inadaptação da criança à escola, esconde-se algum tipo de tensão emocional cuja origem encontra-se no universo familiar. Não é possível compreender a criança separada de seu lar; ela só pode obter maturidade emocional e aprender quando os adultos com os quais ela convive são emocionalmente maduros.
 
Ressalta-se, finalmente, a influência do fator emocional sobre a aprendizagem das crianças. De nada adianta ter um alto desenvolvimento cognitivo se não se tem controle sobre suas emoções. O autoconceito, moldado durante o convívio familiar, também é fundamental: quem se julga capaz de aprender, aprende bem mais e melhor do que quem se julga incapaz para tal.
 
Em suma, se os pais soubessem o poder e a força de seus atos em casa e do contato com seus filhos, a importância de estimular precocemente as crianças e de se ter relações saudáveis em família, as dificuldades de aprendizagem seriam bem menos frequentes...
 
 
Fonte:
Neuropediatria em Foco - Dr. Luís Felipe Siqueira
Disponível em:  http://neuropediatriabh.blogspot.com.br/2012/08/familia-comportamento-e-aprendizagem-em.html

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